quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Entrevista com professora da rede pública.

Após a primeira fase de verificação de dados estatísticos inicializamos a segunda fase:

  Entrevista com uma professora da rede pública sobre como é a realidade dela ao lidar com alunos que já passaram ou passam pela reprovação. Nós entrevistamos uma colega de faculdade que é atuante no município de Duque de Caxias, e por pedido da entrevistada não divulgaremos seu nome.

PERGUNTAS & RESPOSTAS

1) Como as Crianças se sentem/reagem após descobrirem que ficaram reprovadas?
R: Elas não ligam ! Eles falam assim com uma naturalidade: "ficar reprovado?" e fazem assim (chacoalhando os ombros com ar de desdém)

2) Qual a sua maior dificuldade?

R: A maior dificuldade é que até o terceiro ano eles são obrigados a serem aprovados e quando chega no terceiro ano elas são empurradas com a barriga. Aí quando chega no terceiro eles ficam retidos. Eles já vem com dificuldades do 1º e 2º ano e quando chegam no 3º eles não conseguem acompanhar e ficam retidos. Aí retém esses alunos por 2 anos, E passam essa criança sem ela saber e quando chega no 5º ano, lendo como eu falo "catando cavaco". Lendo silabado , eles não conseguem acompanhar o resto da turma, mas são aprovados pro 6º porque a idade deles não é mais compatível com o 5º.

3) Qual a sua opinião como professora, a solução é reprovar?

R: Eu acho que se ele não tem maturidade, nem condições pra estar no 5 ºano ele não tem como ir pro 6º. Se ele não sabe escrever , se na hora de produzir um texto ele não sabe escrever " Dinheiro" , como ele vai passar pra um 6º ano? Eu tenho consciência de que isso não é um problema do 5º ano. isso começa lá na ed. infantil e vem se arrastando. É muito ruim você aprovar um aluno pro 6º ano que não tem condições, mas é muito ruim você reprovar um aluno com 16 anos? É uma situação muito complicada, porque eu sei que a dificuldade que esse aluno vai ter será muito maior. Só que também é complicado você reter esse aluno e ele começar a faltar e vai acabar abandonando a escola.

4) Você acha que o número de defasagem por conta das reprovações é muito grande?

R: Sim, só na minha sala representa uns 25 a 30% Mas isso acontece em todas as turmas. Tem alunos no terceiro ano que ta com 12/13 anos. E eu tenho alunos no 5º ano com 15/16 anos que já deveriam estar ensino médio. Isso (defasagem) a partir do 3º é natural.

5) Você acha que o ciclo funciona?

R: Eu , não sei. Quando você trabalha com um aluno desde o primeiro ano, você conhece a criança, a sua turma. Você sabe quem que precisa de mais atenção. Agora quando você trabalha com a criança um ano,vem outro professor até ele conseguir ganhar a turma ele já perdeu dois, três, quatro meses e um ano não dá! Um ano é pouco.

Um comentário:

  1. A entrevista com a professora da rede municipal, que também é aluna da disciplina serve como exemplo dos atuais dilemas vividos pelos professores quando o assunto é reprovação. A forma equivocada como os Ciclos vem sendo utilizados e a descontinuidade de políticas públicas em educação tornam cadavez mais difícil a tarefa do professor dos anos iniciais. A fala da entrevistada demonstra claramente seu desencanto com seu cotidiano, e em alguns momentos até um sentimento de impotência diante dos problemas que ela e os alunos vivenciam. A naturalidade com que os alunos encaram a reprovação nos faz refletir sobre nosso papel emquanto educadores, será que o discurso que temos incutido nos alunos faz com que encarem a reprovação como algo que eles de alguma forma fizeram por merecer? Será que estes mesmos alunos possuem a consciência do desdem com que falam de tal fato? Temos que repensar as práticas massacrantes naturalizadas de forma covarde no interior da escola.

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